Startups de ‘deep tech’ impulsionam a inovação na América Latina

Luiz Antônio
Tempo de Leitura 7 min

Tudo começou como uma pequena startup na Costa Rica, com um foco inovador na área de implantes mamários. No entanto, atualmente, a Establishment Labs é uma empresa listada na Bolsa de Valores de Nova York (Nasdaq), avaliada em impressionantes US$ 1,8 bilhão.

Através da utilização de inteligência artificial, a chilena NotCo está revolucionando o mercado ao substituir produtos de origem animal por alternativas à base de plantas. Enquanto isso, a empresa argentina Bioceres está transformando radicalmente a maneira como os alimentos são cultivados.

No campo da tecnologia espacial, a empresa argentina Satellogic está inovando ao criar constelações de satélites de alta resolução e baixo custo, focados na observação da Terra.

Mas o que essas empresas têm em comum? Elas conseguiram fazer descobertas científicas e criar inovações tecnológicas verdadeiramente disruptivas.

Diferentemente de outras empresas que desenvolvem aplicativos para smartphones ou inovações em produtos ou modelos de negócios, essas startups estão promovendo inovações tecnológicas puras, também conhecidas como deep tech ou tecnologia profunda.

“Estamos testemunhando uma explosão de inovação de Big Tech na América Latina”, afirma Ignacio Peña, autor do estudo “Deep Tech: a nova onda”, do BID Lab.

“Isso é algo sem precedentes em sua magnitude”, diz o pesquisador à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC. “A tecnologia está nos permitindo fazer coisas que antes eram inimagináveis, como diagnosticar câncer com uma gota de sangue.”

Biotecnologia lidera, seguida por Inteligência Artificial

A biotecnologia é responsável por mais de 60% das inovações de tecnologia profunda na região, seguida pela inteligência artificial, com 11%.

Há outros setores emergentes com menor desenvolvimento, como nanotecnologia, tecnologias limpas, tecnologia espacial, mobilidade avançada e robótica.

Um fato interessante que ocorreu nos últimos anos, explica Peña, é que os custos de algumas dessas inovações têm diminuído, o que está permitindo uma disseminação mais ampla dessas tecnologias.

Argentina: Líder na América Latina

A maioria das startups de deep tech na região está localizada na Argentina, Brasil e Chile, que representam 80% do total latino-americano.

Em termos de valor de mercado, esses três países, junto com a Costa Rica, estão na liderança.

A Argentina abriga o maior número de startups de deep tech da região (103 startups, representando 30% do total, principalmente em estágios iniciais de desenvolvimento).

Foi o berço da Auth0, empresa de cibersegurança vendida em 2021 por US$ 6,5 bilhões, estabelecendo o maior valor da história entre startups de deep tech na região.

No país sul-americano, duas em cada três empresas estão focadas na biotecnologia, enquanto a empresa Satellogic lidera o emergente setor de tecnologia espacial.

Uma das políticas que tem tido um impacto positivo no desenvolvimento da tecnologia profunda no país está relacionada à Lei do Empreendedorismo de 2017, além do grande número de fundos de capital de risco que têm investido em startups.

Brasil: Potencial de Crescimento

Com 101 startups emergentes, o Brasil ocupa o segundo lugar na região em desenvolvimento de deep tech, quase no mesmo nível da Argentina.

Embora o número não seja tão surpreendente em relação ao tamanho do país, as startups brasileiras têm alcançado um alto valor de mercado.

Na verdade, 37 empresas têm um valor de mais de US$ 10 milhões, e o setor de biotecnologia representa mais da metade dessas empresas.

O Brasil possui um grande potencial de crescimento, uma vez que concentra quase 80% dos pesquisadores da região, mais da metade das patentes e 40% dos investimentos em capital de risco da América Latina.

Chile: Liderança em Valor de Mercado

As startups chilenas que desenvolvem tecnologia profunda acumulam o maior valor de mercado em toda a região, apesar da economia chilena ser menor do que a do Brasil e Argentina.

Juntas, essas startups estão avaliadas em cerca de US$ 2 bilhões, o que representa um quarto do valor total dessas empresas em toda a região.

O Chile possui 3,4 startups por milhão de habitantes, indicando uma sólida posição do setor em âmbito regional.

A NotCo, empresa que utiliza inteligência artificial para desenvolver alimentos, é a startup de maior sucesso do país no setor de deep tech.

Embora mais da metade das empresas estejam no campo da biotecnologia, a inteligência artificial lidera as tecnologias avançadas do país em termos de valor, em grande parte devido ao rápido crescimento da NotCo.

Costa Rica: Valor de Mercado Concentrado

A Costa Rica se destaca no cenário de deep tech devido ao sucesso da startup mais valiosa da região, a Establishment Labs, que concentra 97% do valor de mercado do setor no país.

México e Colômbia: Desafios a Superar

Duas das maiores economias da região, México e Colômbia, estão atrasadas no desenvolvimento de startups de deep tech, com uma das menores concentrações desse tipo de empresa na América Latina.

É surpreendente que o México, com um grande setor de manufatura e capital de risco, tenha apenas 0,2 startups de tecnologia profunda por milhão de habitantes.

Da mesma forma, a Colômbia também apresenta apenas 0,2 startups por milhão de habitantes, com apenas nove empresas dedicadas à tecnologia profunda.

Na América Latina, as estimativas indicam que a biotecnologia continuará liderando o setor de deep tech devido à forte ligação da região com a agricultura e a produção de alimentos, além de sua biodiversidade e um número significativo de profissionais atuando nesse campo.

Embora ainda haja um longo caminho a percorrer, Marcelo Cabrol, chefe de Escalabilidade, Conhecimento e Impacto do BID Lab, afirma que “há uma grande oportunidade de crescimento”.

“Isso não é ficção científica. A tecnologia profunda irá melhorar a vida da maioria da população.”

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