Mostra com mais de 30 obras de artistas cearenses e do resto do Brasil e do mundo
parte da história do indígena Tibira do Maranhão enquanto uma ancestralidade
mártir da população LGBTQIAPN+.
Nesta segunda-feira, 7 de agosto, estreia a exposição performática DEGENERADO
TIBIRA: O DESBATISMO, com curadoria de Eduardo Bruno (Fortaleza/CE) e
Waldirio Castro (Campina Grande/PB). Durante 30 dias, na Casa do Barão de
Camocim, no Centro de Fortaleza, o público poderá conferir mais de 30 obras de
diversos artistas locais, nacionais e internacionais que refletem sobre o
cristianismo e a população LGBTQIAPN+ sob a ótica do primeiro caso de morte por
LGBTfobia que se tem registro no Brasil. A abertura contará ainda com a
performance “Espiral da Morte”, da artista indígena Uýra Sodoma, às 19h.
A mostra possui como disparador da pesquisa curatorial o personagem da história
não oficial brasileira Tibira do Maranhão. Pertencente ao povo originário
Tupinambá, Tibira foi assassinado de forma brutal no séc. XVII, na região onde hoje
está localizado o estado do Maranhão, a mando de frades franceses da ordem dos
Capuchinhos, pelo crime de sodomia. Com a justificativa de purificar a terra de todas
as maldades, Tibira foi batizado forçadamente e depois foi amarrado à boca de um
canhão, tendo o corpo estraçalhado pela explosão.
O caso de Tibira pode ser entendido como o primeiro caso documentado, na
história do Brasil, do que atualmente se entende como crime de homotransfobia.
Inspirados no personagem, os curadores Eduardo Bruno e Waldírio Castro, por
sua vez, propõem uma exposição performática como exercício de romper com a
morte e os silenciamentos físico, simbólico e histórico impostos aos corpos
LGBTQIAPN+.
A exposição se constrói enquanto uma produção de visualidades em torno da ideia
de desbatismo e do tensionamento da população LGBTQIAPN+ e suas múltiplas
interseccionalidades aos dogmas do cristianismo conservador que, historicamente,
violentam essa população. Para isso, a exposição DEGENERADO TIBIRA: O
DESBATISMO inventa, de modo anacrônico, um exercício de reparação histórica
para esse personagem da história não oficial brasileira, juntamente a um processo
de investigação de (re)narrativas de nossas próprias histórias e vidas.
Enquanto uma celebração, a exposição questiona a tradição cristã do batismo, ao
desbatizar corpos LGBTQIAPN+ como forma de abdicar uma ideia de salvação que
exclui, silencia e mata corpos desviantes e minorizados. Com isso, os idealizadores
e artistas pretendem reimaginar outras possibilidades para as imposições
coloniais-cristãs-europeias que atravessam os corpos das pessoas LGBTQIAPN+ de
forma violenta até hoje.
‘Degenerado Tibira’: indígena vítima do 1º caso documentado de LGBTfobia no Brasil inspira exposição que estreia nesta segunda (7/8) em Fortaleza
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