Conflito entre turismo e tragédia: A disparidade na ilha havaiana de Maui

Ana Priscila
Tempo de Leitura 4 min

Após incêndios florestais devastarem partes da ilha havaiana de Maui, um dos destinos turísticos mais populares dos Estados Unidos, as autoridades emitiram alertas aos visitantes para evitarem a área. No entanto, apesar dos avisos, milhares de pessoas permaneceram no local, enquanto outras continuaram a viajar para a região, provocando frustração entre os moradores locais que enfrentaram a tragédia.

Na segunda-feira (14/8), na praia de Wailea em Maui, o cenário era contrastante. Hotéis luxuosos se estendiam à beira-mar, com hóspedes relaxando na areia. Alguns nadavam no oceano, enquanto outros desfrutavam de guarda-sóis e toalhas brancas em cadeiras de praia.

Dentro de um dos hotéis, ao lado de uma piscina, uma fonte de dois níveis e uma área com paredes de vidro para um papagaio decoravam o ambiente. Um quadro de madeira anunciava um fundo de ajuda para os funcionários do resort, destacando a primeira indicação da destruição ocorrida em Lahaina, localizada a apenas 48 km da costa.

A frustração em relação aos turistas que optaram por continuar suas férias na região cresceu após os incêndios florestais, os mais mortais na história moderna dos Estados Unidos.

Muitos residentes de Maui enfatizam que a devastação tornou mais evidente a existência dos “dois Havaís”: um voltado para o conforto dos visitantes e outro, mais árduo, destinado aos habitantes locais. Um jovem funcionário de um hotel em Maui, de 21 anos, que preferiu manter o anonimato, comentou: “Tudo parece ser maravilhoso na indústria do turismo, mas o que está por trás disso é um pouco assustador.”

Logo após os incêndios florestais, as autoridades do condado pediram aos turistas para deixarem Lahaina e a ilha o mais rápido possível. Mais tarde, foi solicitado que as pessoas evitassem totalmente a ilha, exceto para viagens essenciais. A Autoridade de Turismo do Havaí ressaltou a importância de concentrar recursos na recuperação das comunidades e residentes afetados.

Após os incêndios, aproximadamente 46 mil pessoas deixaram a ilha, deixando o aeroporto repleto de carros alugados abandonados. Entretanto, milhares de turistas optaram por permanecer. Alguns ignoraram os pedidos para deixar Maui imediatamente, enquanto outros chegaram após o desastre, o que causou irritação entre os moradores locais.

O sentimento de oposição aos turistas é complexo, uma vez que a economia da ilha depende significativamente do turismo. O Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maui estima que a “indústria do turismo” responda por quatro em cada cinco dólares gerados na ilha, descrevendo os visitantes como o “motor econômico” do condado.

Apesar das preocupações, há receios de que o crescente sentimento anti-turismo possa prejudicar ainda mais a economia de Maui. O medo é que a reticência dos turistas em visitar a ilha afete negativamente os negócios locais.

A disparidade entre os moradores locais afetados pela tragédia e os turistas desfrutando de atrações isoladas foi evidente nos dias após os incêndios. Enquanto os habitantes locais enfrentam desafios como a crise habitacional e a luta para manter suas vidas, os turistas frequentavam os resorts e as atrações de luxo.

A reconstrução futura de Lahaina suscita preocupações de que ela possa se tornar mais voltada para o turismo, reforçando a divisão entre os “dois Havaís”. Alguns temem que a área seja transformada em uma versão de Waikiki, uma região turística dominada por arranha-céus e lojas de luxo em Honolulu.

Em meio a esse conflito entre turismo e tragédia, a ilha de Maui enfrenta desafios complexos na busca por equilibrar a dependência econômica do turismo com as necessidades e preocupações dos moradores locais.

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