Relatório da CPI das Americanas cita fraude de R$ 20 bilhões, mas não indica responsáveis

Luiz Antônio
Tempo de Leitura 5 min

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Americanas aprovou na terça-feira (26) o relatório elaborado pelo deputado Carlos Chiodini (MDB-SC), que menciona uma possível fraude financeira de mais de R$ 20 bilhões nos balanços da empresa Lojas Americanas, mas não sugere o indiciamento de nenhum indivíduo.

O relatório tem 353 páginas e foi aprovado com 18 votos a favor e 8 contra, com as federações PT/PCdoB/PV e PSOL/Rede se opondo ao texto. O PL liberou sua bancada, pois possui deputados com opiniões divergentes.

No documento, Chiodini afirma que “o conjunto de evidências realmente aponta para o possível envolvimento de pessoas que faziam parte da alta administração da empresa (ex-diretores e ex-executivos)”. No entanto, ele acrescenta que:

“Contudo, até o momento, as provas não são suficientes para formar um juízo de valor que permita atribuir a autoria e justificar um possível indiciamento.”

Em janeiro deste ano, as Lojas Americanas entraram com um pedido de recuperação judicial após revelar inconsistências fiscais de R$ 20 bilhões e uma dívida de R$ 43 bilhões. Esse caso levantou suspeitas de fraude e está sob investigação judicial.

A CPI, que foi instalada em 17 de maio, tinha como objetivo investigar essas inconsistências. Durante os quase quatro meses de trabalho, a comissão ouviu ex-diretores das Lojas Americanas, bem como os advogados responsáveis pela recuperação judicial da empresa e autoridades envolvidas nas investigações.

A decisão do relator de não indicar possíveis investigados gerou críticas de deputados com diferentes filiações políticas.

O deputado Alfredinho (PT-SP) expressou sua insatisfação, afirmando que o relatório “protegeu muitas pessoas poderosas” e que deveria ter sido mais incisivo.

“Estou saindo com uma sensação de frustração”, disse ele. “Houve uma proteção dos poderosos, dos líderes. Esta CPI tinha o papel de esclarecer, apresentar resultados e esclarecimentos ao povo brasileiro.”

O deputado Vermelho (PL-PR) também criticou o relatório, declarando que não deveria ser uma ferramenta para proteger ou encobrir irregularidades.

“Proteger, encobrir ou participar de fraudes, não. Não é nosso papel aqui, devemos ser transparentes e diretos”, afirmou.

João Carlos Bacelar (PL-BA) informou que, devido à falta de aprofundamento na análise da CPI, eles levarão o assunto para a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle, que é presidida por uma deputada do partido, Bia Kicis (PL-DF).

O deputado Tarcísio Motta (PSOL-RJ) ressaltou que nem mesmo os documentos solicitados por seu partido foram analisados com rigor técnico pela CPI.

“Está claro que a CPI não conseguirá chegar a lugar nenhum; ela caminhou para lugar nenhum.”

Apesar de reconhecer que o relatório “poderia ter ido mais longe”, Mendonça Filho (União-PE) defendeu o relator e explicou que o relatório foi elaborado buscando alcançar um consenso.

“Uma CPI não é uma delegacia de polícia, ela não tem os mesmos recursos e ferramentas do Ministério Público Federal. Devemos diferenciar claramente esses papéis e atuações.”

Em uma nota encaminhada à CPI e incluída no relatório final, as Lojas Americanas expressaram confiança nas autoridades envolvidas nas investigações e nas delações homologadas que estão sob sigilo de justiça. A empresa também mencionou que o relatório da CPI se baseou em documentos levantados pelo Comitê de Investigação Independente, bem como em documentos adicionais identificados pela Administração e seus assessores jurídicos.

Sugestões Legislativas O relatório apresenta quatro projetos de lei sugeridos com base nas contribuições de especialistas e gestores ouvidos durante a CPI, com o objetivo de:

  1. Aprimorar a responsabilidade civil dos administradores de sociedades anônimas, a ação de reparação de danos contra acionistas controladores e auditores independentes de sociedades anônimas, entre outros.
  2. Permitir que auditores independentes obtenham informações sobre operações de crédito realizadas por sociedades anônimas, grandes empresas ou fundos de investimento sob sua auditoria, de acordo com a legislação ou regulamentos.
  3. Introduzir a tipificação do crime de infidelidade patrimonial.
  4. Melhorar o sistema de proteção de denunciantes de boa-fé.
  5. Encaminhar uma sugestão ao Ministério da Fazenda para aumentar o orçamento e a equipe da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e proporcionar treinamento a seus funcionários.
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