Um estudo realizado por Herbst revelou que, contrariando as crenças, a voz de Mercury não alcançava quatro oitavas musicais (o equivalente a 48 teclas de um teclado, entre as pretas e brancas), mas sim 37 semitons, variando de 92,2Hz (grave) a 784Hz (agudo).
Surpreendentemente, outro integrante do Queen, o baterista Roger Taylor, possui uma extensão vocal ainda mais ampla, e é ele quem canta o trecho Galileo, Figaro em Bohemian Rhapsody. Apesar de não atingir as quatro oitavas, a voz de Mercury era extremamente maleável, transitando tranquilamente do F#2 ao G5.
Segundo o cantor erudito e maestro Alexandre Innecco, Mercury soube utilizar com maestria a ampla zona de frequência em que se sentia à vontade nas músicas compostas por ele e seus colegas de banda. “Ele soube explorar isso muito bem no repertório do Queen. As músicas evidentemente eram compostas para a voz de Mercury. Ao cantar, ele sobe, desce, faz falsete (registro mais agudo ou mais grave que a extensão vocal individual) com muita facilidade. Mercury tinha uma voz extremamente elástica” afirma Innecco.
Vibrato
Outra característica marcante de Mercury é o vibrato, um ornamento musical que consiste em fazer uma ondulação harmônica e uniforme na frequência do som. O cientista da voz, Christian T. Herbst, analisou 240 notas sustentadas com vibrato de 21 gravações a capella (sem instrumentos). Ele observou que o vibrato de Mercury apresenta padrões de modulação mais irregulares, resultado da superposição de mais de um componente de modulação de frequência. Essa irregularidade torna a voz de Mercury absolutamente única.
Uso das Pregas Vocais
Embora o estudo de Herbst não tenha investigado o uso específico das pregas vocais pelo artista, foi feito um experimento onde um cantor de rock profissional, imitando a forma de cantar de Mercury, teve sua laringe filmada. Esse teste sugere que o vocalista do Queen utilizava, simultaneamente, as pregas vocais e as pregas vestibulares, conhecidas popularmente como “falsas cordas vocais”. Essas duas outras pregas atuam como geradores adicionais de ondas sonoras, contribuindo para a harmonia da voz.
Influência dos Dentes
A voz de Mercury também pode ter sido influenciada pelo fato de possuir dentes a mais. O som gerado pelas pregas vocais é transmitido para o trato vocal, composto pela boca e cavidades nasais. Esses espaços amplificam e ajustam o som, e a estrutura bucal pode ter desempenhado um papel na sonoridade única de sua voz.
O Fascínio Exercido por Mercury
Para a fonoaudióloga Claudia Pacheco, o fascínio exercido por Freddie Mercury se deve ao conjunto de fatores, como o timbre, extensão vocal, estrutura da caixa de ressonância, domínio do aparelho fonador e controle respiratório, além de sua maneira única de interpretar as canções. A personalidade artística de Mercury tornou-o um cantor excepcional, muito além da simples técnica vocal.