A Americanas revelou hoje que as demonstrações financeiras da empresa foram fraudadas pela diretoria anterior. Em um comunicado ao mercado, a empresa expôs as irregularidades e apontou um ex-diretor como responsável. Segundo a empresa, ainda estão sendo apurados os efeitos dos ajustes decorrentes das fraudes nos resultados mais recentes, mas espera-se que sejam significativos.
Pela primeira vez, a Americanas admitiu a informação em um relatório apresentado ao conselho de administração da varejista. A empresa está em recuperação judicial desde o início do ano, após descobrir um déficit contábil.
De acordo com a Americanas, o relatório, entregue na segunda-feira ao conselho de administração, foi elaborado com base em documentos fornecidos pelo comitê de investigação independente, bem como em documentos adicionais identificados pela administração e seus assessores durante reuniões com o comitê.
O relatório também menciona a participação de Miguel Gutierrez, ex-presidente-executivo que deixou a empresa em dezembro de 2022, e outros ex-diretores e executivos antigos na fraude. Não foi possível obter um posicionamento imediato de Gutierrez.
Em janeiro, a Americanas revelou inconsistências contábeis de aproximadamente R$ 20 bilhões, o que desencadeou uma crise na empresa e resultou no pedido de recuperação judicial.
Segundo a empresa, as informações do relatório, juntamente com o trabalho de revisão das demonstrações financeiras históricas, levaram à conclusão de que a fraude ocorria principalmente em operações como contratos de verba de propaganda cooperada e instrumentos semelhantes (“VPC”).
Esses incentivos comerciais normalmente utilizados no setor de varejo foram artificialmente criados para melhorar os resultados operacionais da empresa, reduzindo os custos, mas sem envolver efetivamente fornecedores, conforme informado pela Americanas.
Além das operações de VPC, a diretoria anterior da Americanas contratou financiamentos nos quais a empresa é devedora perante bancos, sem as devidas aprovações societárias, e essas operações foram inadequadamente contabilizadas no balanço patrimonial de 30 de setembro de 2022 na conta fornecedores.
Os financiamentos de compras, incluindo risco sacado, forfait ou confirming, totalizam aproximadamente R$ 18,4 bilhões, e os financiamentos de capital de giro alcançam cerca de R$ 2,2 bilhões, em números preliminares e não auditados.
A Americanas também identificou lançamentos redutores na conta de fornecedores relacionados a juros sobre operações financeiras, que deveriam ter sido registrados no resultado da empresa ao longo do tempo. Esses lançamentos totalizam aproximadamente R$ 3,6 bilhões, em números também preliminares e não auditados.
A empresa afirmou que os ajustes contábeis definitivos serão refletidos nos demonstrativos financeiros históricos auditados, que serão reapresentados assim que os trabalhos forem concluídos.
Além disso, o conselho de administração orientou a empresa e seus assessores a apresentarem o relatório a todas as autoridades competentes e a considerarem medidas para buscar o ressarcimento pelos danos causados pela fraude.