Um apagão de grandes proporções causou transtornos generalizados nesta segunda-feira (28/4) em Portugal, Espanha, Andorra e partes da França. O corte de energia afetou transportes, aeroportos, serviços e o comércio, deixando milhões de pessoas sem informações e no escuro.
Na Espanha, restaurantes e lojas fecharam, enquanto o Aberto de Tênis de Madri precisou ser suspenso. Já em Portugal, semáforos desligados provocaram caos no trânsito, e os metrôs de Lisboa e Porto pararam completamente. Em Madri, a situação foi semelhante, com passageiros sendo obrigados a caminhar por estações de metrô escuras.
A Rede Elétrica Nacional (REN), empresa portuguesa responsável pela transmissão de energia, atribuiu o apagão a “variações extremas de temperatura no interior da Espanha”, que teriam causado oscilações nas linhas de alta tensão — um fenômeno conhecido como “vibração atmosférica induzida”. A companhia alerta que, devido à complexidade do reequilíbrio dos fluxos de energia entre os países, a normalização total pode levar até uma semana. A Espanha ainda não confirmou essa explicação.
O primeiro-ministro português e atual presidente do Conselho Europeu, Luís Montenegro, assegurou que não há indícios de ataque cibernético.
Impacto no dia a dia
O caos se espalhou rapidamente. Em Portugal, a companhia aérea TAP pediu que passageiros evitassem o aeroporto. Restaurantes, lojas e caixas eletrônicos pararam de funcionar, gerando enormes filas de pessoas tentando sacar dinheiro em espécie.
Nas ruas, cenas de improviso e preocupação: chefs de cozinha usando lanternas de celular para continuar trabalhando, moradores se deslocando a pé para casa e escolas funcionando apenas graças a geradores de emergência.
O sistema de trens da operadora espanhola Renfe também foi completamente paralisado por falta de energia, afetando milhares de passageiros.
Relatos de quem enfrentou o apagão
Barbara Tasch, repórter da BBC News, conversou com moradores de Madri que relataram o impacto direto no cotidiano. “Os semáforos se apagaram, as pessoas abandonaram escritórios e supermercados e tentavam, sem sucesso, se comunicar por celular”, relatou a inglesa Hannah Lowney.
A brasileira Nina Alves, residente em Barcelona, contou que caminhou mais de cinco quilômetros até sua casa. “Sem metrô, sem táxi e com os ônibus lotados, restou apenas andar. Depois, ainda tive que buscar meus filhos na escola sem conseguir contato telefônico”, disse. “Nas lojas, só era possível comprar com dinheiro vivo — e quem ainda anda com dinheiro hoje em dia?”, questionou.
Ela ainda lembrou que o episódio acontece poucas semanas depois de a União Europeia recomendar que os cidadãos montassem “kits de sobrevivência” com comida, medicamentos e lanternas, gerando ainda mais apreensão.
Consequências no transporte aéreo
Até o final da tarde, segundo dados obtidos pela BBC, Portugal já registrava 96 voos cancelados — 29,63% só no aeroporto de Lisboa. Na Espanha, 45 voos foram cancelados, impactando principalmente os aeroportos de Madri e Barcelona. As causas específicas de cada cancelamento não foram detalhadas.
Autoridades pedem calma
O prefeito de Madri, José Luis Martínez-Almeida, gravou um vídeo pedindo que as pessoas evitem se deslocar e só acionem serviços de emergência em situações críticas. Delegacias, bombeiros e hospitais estão sendo orientados a atender quem não conseguir contato telefônico.
Túneis e outras vias importantes também foram fechados por segurança.
Histórico de apagões na Europa
Este não é o primeiro grande blecaute a atingir o continente. Em 2006, uma falha humana na Alemanha deixou cerca de 10 milhões de pessoas sem energia, afetando inclusive partes do norte da África. A empresa alemã E.On assumiu a responsabilidade pela pane.
Situação segue instável
A Red Eléctrica, operadora de energia da Espanha, informou que segue trabalhando para restabelecer a eletricidade em todo o país. No entanto, a recomendação das autoridades é que as pessoas se preparem para possíveis novos cortes e restrições nas próximas horas.
O clima de incerteza permanece enquanto a Europa busca respostas e soluções para um dos maiores apagões da década.