A exclusão dos Estados Unidos da Copa do Mundo feminina de 2023 trouxe um verdadeiro choque. As atuais bicampeãs mundiais foram surpreendentemente eliminadas nas oitavas de final no domingo, 6 de agosto, pela equipe da Suécia, despedindo-se prematuramente do torneio. É a primeira vez que as norte-americanas deixam a competição tão cedo. Nas edições passadas, o pior desempenho dos EUA foi um terceiro lugar, alcançado em 1995, 2003 e 2007.
Com um incrível histórico de mais de 4.300 dias sem perder em jogos de Copas do Mundo, tendo conquistado os títulos em 2015 e 2019, o desenrolar de 2023 foi um enredo completamente distinto. Mesmo competindo em um grupo relativamente acessível, as jogadoras lideradas por Megan Rapinoe venceram o Vietnã e empataram com a Holanda, resultados considerados aceitáveis no contexto.
A reprise da final de 2019 contra a seleção holandesa foi intensa, com um jogo equilibrado onde cada time dominou em um dos tempos. Para a maioria dos especialistas, a incógnita do Grupo E era qual das duas favoritas, EUA ou Holanda, garantiria o primeiro lugar.
O primeiro sinal de complicações veio no confronto contra a equipe portuguesa. Precisando da vitória para avançar, os Estados Unidos enfrentaram dificuldades contra as jogadoras europeias. Em sua primeira participação na Copa do Mundo feminina, Portugal jogou de igual para igual contra as norte-americanas e a partida terminou empatada sem gols, com um detalhe crucial: nos acréscimos da segunda etapa, a atacante Ana Capeta acertou a trave. A equipe dos EUA ficou com a posse de bola, mas não conseguiu transformá-la em oportunidades claras de gol. A defesa adversária também se fortaleceu. Faltaram finalizações e penetrações eficazes. O ataque mostrou-se mais lento nesta edição.
No entanto, o empate em 0 a 0 garantiu a passagem dos EUA para a próxima fase, porém a imprensa norte-americana não economizou nas críticas à equipe. Carli Lloyd, ex-capitã que conduziu as vitórias em 2015 e 2019, criticou severamente o desempenho de suas ex-companheiras e afirmou que a classificação para as oitavas de final do torneio foi conquistada “por sorte”.
Em entrevista à Fox Sports, a meio-campista classificou a postura das jogadoras como “arrogante”. Esta percepção ganhou ressonância. A jogadora reconheceu que os EUA já não são mais imbatíveis como foram em sua era de atuação. “Achávamos que poderíamos simplesmente entrar em campo e vencer os jogos. Isso já não é mais a realidade, e as equipes estão cientes disso. Elas percebem a arrogância da equipe dos EUA e sabem que este time já não é invencível”, afirmou a atleta. “A trave foi a melhor jogadora em campo. Vocês têm sorte de não estarem sendo eliminadas”, acrescentou Lloyd.
Uma das principais críticas direcionadas à atual geração do futebol feminino norte-americano é a ausência de uma suposta “mentalidade vencedora”. Na coletiva de imprensa antes do jogo contra a Suécia, o treinador Vlatko Andonovski defendeu suas jogadoras. “Questionar os padrões e a mentalidade desta equipe, após tudo o que conquistaram, não é apropriado neste momento e não é a abordagem correta. Embora reconheçamos que poderíamos ter sido eliminados se a bola não tivesse atingido a trave, continuamos avançando. Embora a sorte tenha nos ajudado, continuaremos a trabalhar para evitar que situações semelhantes ocorram novamente”, declarou antes da eliminação.
Andonovski assumiu o comando da equipe em 2019, após a conquista do bicampeonato. No entanto, sua missão não era nada fácil: ele sucedeu a lendária Jill Ellis, que conquistou ambos os títulos mundiais e, em 132 jogos, acumulou 106 vitórias, 19 empates e apenas 7 derrotas. No entanto, as jogadoras que brilharam sob a liderança de Ellis já se aposentaram ou não estão em sua melhor forma, assim como ocorreu em outras Copas.
Enquanto Carli Lloyd agora se dedica a comentar as partidas, Alex Morgan e Megan Rapinoe – dois pilares da seleção feminina dos Estados Unidos durante a década de 2010 – já não exibem a mesma excelência, à semelhança do que aconteceu com Marta pelo Brasil, também eliminado precocemente. Na Copa do Mundo de 2023, ambas tiveram desempenhos discretos e contribuíram pouco para a equipe. Rapinoe, inclusive, desperdiçou um pênalti que decretou a eliminação dos EUA no torneio. Talvez esta seja sua última Copa, abrindo espaço para seu possível ingresso na política norte-americana.
Enquanto as jogadoras jovens ainda não estão prontas para assumir o protagonismo na seleção dos Estados Unidos, as veteranas enfrentam um declínio em seu desempenho e já não conseguem reproduzir o futebol que as destacou nas edições anteriores. Para os EUA, a Copa de 2023 representa um período de transição geracional. Enquanto Alex Morgan, aos 34 anos, e Megan Rapinoe, aos 38 anos, se despedem, surgem Sophia Smith, de 22 anos, e Trinity Rodman, de 21 anos – filha de um jogador de basquete. A permanência de Andonovski como treinador ainda é incerta, mas o resultado desapontador certamente terá seu peso. O futuro, porém, apresenta promessas. Com a nova safra de talentosas atletas amadurecendo, é provável que os Estados Unidos voltem a se tornar “imbatíveis” até 2027. Só o tempo dirá.