“Um campeonato de skate não começa com o primeiro treino oficial. Ele começa no momento em que você cumprimenta o primeiro segurança na entrada da arena.”
Augusto Akio vê as coisas como processos, prestando atenção aos detalhes e valorizando as pessoas que muitos ignoram. Essa filosofia de vida, do quarto skatista brasileiro a conquistar uma medalha olímpica, é uma herança familiar (a modalidade já garantiu cinco pódios para a família).
A medalha de bronze, conquistada na arena de La Concorde, não começou a ser forjada com o cumprimento ao segurança. A jornada começou muito antes, com a decisão do avô materno de Akio, Fumio Takahashi, de deixar o Japão e recomeçar no Brasil.
Hoje, como medalhista olímpico, Akio é uma fusão de duas culturas. Ele pode cantar “maluco beleza” para expressar como se sente após subir ao pódio olímpico, mas também se emociona ao recordar os esforços de todos que o ajudaram a chegar lá.
Em um esporte onde os japoneses são considerados potências, o medalhista do park carrega uma parte da filosofia oriental em sua maneira de falar, de ver o mundo e até em técnicas de acupuntura para relaxar.
Quando decide sair do roteiro e viajar — algo que ele adora — não há dúvidas: o “Japa” é genuinamente brasileiro.
O skatista de bronze conseguiu a vaga para a final olímpica por pouco.
Ele fez duas voltas consistentes e obteve uma pontuação pessoal de 88,98. Na terceira bateria, precisou observar os adversários para saber seu destino.
No final das contas, o brasileiro avançou para a decisão em oitavo lugar, na última posição que garantiu a vaga para a final. E viu seus compatriotas Pedro Barros e Luigi Cini ocuparem os lugares acima, em sexto e sétimo.
Na final, o jogo recomeçou.
Ele foi o primeiro a ir para a pista. Na primeira volta, errou logo a primeira manobra e recebeu um 2,66.
A pressão aumentou, mas também a nota de Akio. Na segunda tentativa, fez 86,41, novamente caindo no final da volta. Na terceira volta, ele brilhou com um 91,85.
Pedro Barros veio a seguir e quase igualou a nota com 91,65. Depois, Akio observou o que os competidores americanos Tate Carew, australiano Keefer Wilson e italiano Alex Sorgente fariam. Todos caíram, e o bronze foi garantido.
Fazer uma pergunta a Augusto Akio é sempre uma experiência imprevisível, pois suas respostas podem ir por vários caminhos. Logo após conquistar o bronze, ele respondeu a uma pergunta simples de forma detalhada.
Akio, como foi sua prova?
“Desci já com o skate virado, pum! Entrei de roll in. Tá, não posso colocar o pé muito antes da volta, porque senão o tempo já fica rodando. Então eu aproveitei a descidinha, que já tinha a rampa, joguei o skate virado, já na descida da onda que tinha na plataforma. Entrei de roll in botando pressão? Nossa! Já tinha uma parede de frente pra mim!”
“Ali, pô, já dei de cara com a parede, tem que bombar o pé, tem que estar ajeitado um pouco pra fora, mas não muito, também não muito pra trás. Porque essa manobra eu sei que eu preciso que o calcanhar e a lateral do meu tornozelo raspe no nose de maneira eficiente, para que nem gire demais e nem de menos, e que o skate se mantenha próximo de mim a ponto de eu conseguir segurá-lo, sem enxergar muito bem e mirar a volta. Porque a volta também é importante. Se eu estiver muito afastado, eu vou receber um impacto muito grande na hora da aterrissagem. É punk. É super punk, então tem tudo isso que tá acontecendo.”
E isso era só a primeira manobra da volta.
O primeiro skate de Augusto Akio foi um presente de Natal em 2007, comprado em uma loja de departamentos. Sua mãe, a médica Silvana Takahashi, teve um papel fundamental na relação do filho com o esporte, que logo virou profissão.
Mesmo com dois empregos — em um hospital público e em uma clínica de acupuntura —, era ela quem levava o filho adolescente para os campeonatos de skate. A família morava no Paraná, e as viagens eram frequentes. São Paulo, Rio de Janeiro, Santa Catarina, Rio Grande do Sul.
“Era tudo viagem de carro. Mano, eu não sei como que ela aguentava!”, disse Akio, com a medalha no peito, a poucos metros de sua primeira fã. Para encaixar as viagens no calendário familiar, Dona Silvana acelerava.
“Às vezes eram viagens de até 12 horas. E isso que a minha mãe ia ‘chutadona’ na estrada, porque se fosse eu, do jeito que eu dirijo hoje, levaria uns dois dias”, brincou o medalhista.
Com o tempo, as viagens passaram a ser internacionais, de avião, e ela pôde estar em Paris para assistir à conquista de perto.
“A gente nunca imaginava que ia viajar o mundo por causa do skate. A única coisa que a gente queria é que ele fosse feliz. Nunca foi sacrifício, sempre foi um grande prazer. De estar juntos e fazer juntos”, disse Silvana, emocionada, logo após a conquista.
Valeu a pena acelerar para o sonho do filho.
É agradecer até aquelas pessoas que, mesmo indiretamente, fizeram parte da minha caminhada. Cheguei aqui com muito esforço, é mérito meu, mas essa medalha também… é dos organizadores de eventos que fizeram campeonatos de skate que eu participo desde criança. Eles me construíram como um atleta. Eu estava sendo preparado para chegar em um momento deste e estar aqui não só por mim, mas pelos meus amigos do dia a dia, pela minha família que sempre me apoiou.