E se a essência da realidade virtual (RV) fosse uma experiência cognitiva, em vez de um produto visual gerado por computação gráfica? Sonho pode ser uma nova realidade virtual.
Joakim Vindenes, um estudante de doutorado em VR da Universidade de Bergen, na Noruega, fez exatamente esse incitamento.
Um texto publicado recentemente propôs que o sonho lúcido supera a tecnologia de realidade virtual em termos de experiência imersiva, pois os usuários podem manipular conscientemente seu ambiente de sonho sem depender de dispositivos ou softwares avançados de computação.
O autor argumentou que o sonho lúcido oferece um nível incomparável de imersão que supera até mesmo os avanços tecnológicos mais avançados.
Em suas palavras:
Sonhos lúcidos não requerem um espaço físico, você não vai tropeçar na sua TV ou chegar ao limite do espaço de interação (guardian zone). Consequentemente, você não precisa de teletransporte para navegar, nem um supercomputador ou dispositivos caros de RV. Não há nenhum visor pressionando seu rosto e você não precisa de controles: dedos são precisamente rastreados e qualquer tipo de ferramenta pode ser sintetizado à vontade.”
O campo de visão é extremamente amplo, não há nenhum efeito de tela-parede, o sweet spot é enorme, a resolução é super alta, a taxa de atualização é ótima, as funções hápticas são incríveis e há um mapeamento corporal completo já imbutido. A cereja do bolo ainda está numa interface cérebro-máquina através da qual você pode manipular o ambiente virtual com a sua mente, as mais avançadas inteligências artificiais que você já viu e uma infinita coleção de ambientes virtuais para a imersão.”
Essa é a premissa de filmes de ficção científica como:
- “Paprika”
- “A Origem” (Inception)
- “A Cela” (The Cell)
Assim como Vindenes, essas obras também oscilam entre propor uma tecnologia capaz de adentrar a mente e/ou os sonhos das pessoas como métodos terapêuticos ou de investigação criminal.
Mas o quanto disso já é possível e estudado atualmente?
Nosso objetivo instrucional é explorar a acessibilidade dos sonhos, que ocorre durante a fase REM do sono. Vamos nos concentrar neste estado mental, pois serve como um excelente exemplo.
Tendo esse conhecimento à nossa disposição, podemos nos orientar com mais eficácia do que se tentarmos identificar a localização ou os limites da consciência, um conceito que carece de uma definição universalmente aceita.
A mente humana foi dividida em três partes distintas pelo renomado psicanalista Sigmund Freud. Essas partes, ou seja, o ego, o superego e o id, operam entre os reinos consciente, pré-consciente e inconsciente.
A proposta de Carl Jung de um “inconsciente coletivo” sugere a existência de uma “rede” compartilhada de símbolos, arquétipos e narrativas que são fundamentais para nosso desenvolvimento como espécie e como indivíduos.
A ideia em questão tem raízes na proposta de 1922 de Pierre Teilhard de Chardin sobre a noosfera. O termo, que combina “noos” (razão) e “besta” (espaço, atmosfera ou biosfera) do grego, ganhou popularidade por meio da interpretação geológica do cientista Vladimir Vernadsky. Vernadsky via a noosfera como a terceira fase do desenvolvimento da Terra.
Após a criação da geosfera para a matéria inanimada e da biosfera para a vida biológica, o desenvolvimento da noosfera dependeu do surgimento da cognição.
Pouco depois de seu surgimento, o conceito foi adotado por ecologistas, incluindo James Lovelock, que defendeu a Teoria de Gaia como uma interpretação da Terra como uma entidade viva auto-regulada. Com o avanço da internet e das tecnologias computacionais, ficou evidente que elas estavam contribuindo para o crescimento do sistema neural do planeta.
Isso, por sua vez, levou ao surgimento da noosfera, que estava intimamente ligada à rede mundial de computadores. Em 1998, uma série animada chamada “Serial Experiments Lain” apresentava uma proposta de natureza semelhante.
Curiosamente, esse conceito foi objeto de minha primeira pesquisa acadêmica. Durante a década de 1990 e início dos anos 2000, a correlação entre os avanços tecnológicos contemporâneos e as implicações filosóficas para o futuro da humanidade foi explorada em grande profundidade.
Esse período marcou um esforço significativo para compreender a trajetória do progresso humano à luz das recentes descobertas.
Foi nessa época que:
- Ray Kurzweil publicou “A Era das Máquinas Espirituais” e “A Singularidade Está Próxima”
- Douglas Rushkoff publicava “Cyberia”
- Margaret Wertheim escrevia “The Pearly Gates of Cyberspace”
Os filmes que mencionei anteriormente —”Paprika” (2006) e “A Cela” (2000)— também foram lançados nesse período e são, por excelência, junto de “Matrix” (1999), um manifesto a esse novo entendimento da ambiguidade entre o virtual e o real.
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