Superando a predominância masculina, preconceitos e conflitos entre vida pessoal e profissional, mulheres conquistam seu espaço no esporte.
A presença de mulheres em cargos de treinadoras no mundo do esporte brasileiro ainda enfrenta obstáculos notáveis, refletindo desafios persistentes rumo à igualdade de gênero neste setor. Recentemente, o Instituto de Pesquisa DataSenado, em parceria com o Observatório da Mulher contra a Violência (OMV), realizou um estudo qualitativo para dar voz às brasileiras que atuam como atletas, paratletas e técnicas esportivas.
O objetivo era compreender suas experiências e perspectivas no contexto da igualdade de gênero no esporte. O estudo buscou analisar a situação atual, identificando as razões para a baixa representatividade feminina, estratégias de inserção e permanência e os obstáculos enfrentados por essas profissionais.
Os resultados revelaram que o “convite” e a “indicação” são os principais caminhos de entrada para mulheres nesse campo. Além disso, a credibilidade conquistada por meio de desempenho esportivo de alto nível desempenha um papel crucial na sua permanência.
No Brasil, apenas 7% dos técnicos são mulheres, um número que reflete as barreiras identificadas no estudo. A pesquisa enfatiza a importância de superar esses obstáculos e criar oportunidades igualitárias para que mais mulheres possam desempenhar funções de treinadoras esportivas.
Entrevistas com atletas, paratletas e técnicas esportivas no Brasil revelaram que, apesar dos desafios, progressos significativos estão ocorrendo em direção à igualdade de gênero no esporte. Eventos como a Copa Mundial Feminina de Futebol em 2019 e figuras públicas que apoiam o esporte feminino têm contribuído para essa mudança.
A transmissão nacional da Copa Mundial Feminina de Futebol em 2019 destacou jogadoras como Marta, que se tornou uma referência para o esporte feminino. Figuras como Yane Marques e Joana Maranhão também são reconhecidas por seu comprometimento em promover a igualdade de gênero no esporte.
No entanto, as entrevistas também destacaram que as desigualdades de gênero começam cedo na vida das meninas que desejam praticar esportes, com menos incentivo e apoio do que os meninos. Além disso, a cultura esportiva frequentemente exige que as mulheres se adaptem a normas criadas para os homens.
As entrevistas também enfatizaram desafios relacionados ao casamento, gravidez, falta de reconhecimento profissional, discriminação em esportes considerados masculinos e assédio no meio esportivo.
Outro problema enfrentado é a falta de transparência nos critérios de seleção para cargos de liderança no esporte, uma preocupação entre as atletas entrevistadas. Elas percebem que as escolhas muitas vezes são baseadas em relações políticas internas, em vez de critérios objetivos.
Além disso, a disponibilidade e o interesse das mulheres em ocupar cargos de liderança são limitados, e há uma percepção de preconceito velado em relação à presença feminina nesses ambientes.
As atletas entrevistadas indicaram a importância de políticas públicas para promover a igualdade de gênero no esporte. Elas enfatizaram a necessidade de políticas que abordem educação, ressignificação cultural, apoio financeiro, acessibilidade, inclusão e reconhecimento.
Essas políticas públicas podem desempenhar um papel fundamental na construção de uma sociedade mais igualitária e no fortalecimento do esporte feminino. As atletas acreditam que o envolvimento do Estado na formulação e implementação dessas políticas pode ampliar a representação feminina nas Olimpíadas e Paraolimpíadas e inspirar mais meninas a se destacarem em áreas predominantemente masculinas.
A busca pela igualdade de gênero no esporte brasileiro é um processo contínuo, mas está claro que esforços estão sendo feitos para garantir que as mulheres tenham um papel significativo e respeitado no mundo esportivo.
As treinadoras brasileiras enfrentam uma série de desafios consideráveis. Diante dessas dificuldades, não é surpresa que algumas mulheres internalizem a predominância masculina nessa profissão e, consequentemente, se deparem com a exclusão das mulheres, o que pode levá-las a desistir de suas carreiras. Apenas um pequeno grupo demonstra determinação para superar todas as barreiras existentes.
Portanto, é crucial que os órgãos representativos do esporte nacional promovam novas políticas com o objetivo de convocar as confederações, federações e clubes a implementarem medidas para reduzir essas dificuldades que limitam a entrada, progresso e permanência das mulheres como treinadoras esportivas no país.
Samara Sampaio, treinadora e preparadora física do Cerrado Basquete, compartilhou sua jornada marcante no mundo do esporte a respeito do assunto, tanto como treinadora quanto como atleta. Ela enfatiza que sempre precisou alcançar resultados excepcionais para conquistar seu espaço, ganhar credibilidade e ser reconhecida. Samara compreendeu desde cedo a importância da formação contínua para se destacar no competitivo mercado de trabalho esportivo.
Ela investiu tempo, recursos financeiros e paciência, ciente de que o caminho não seria fácil. Ela destaca que não é possível romantizar esse processo, pois enfrentou diversas dificuldades, incluindo discriminação, preconceito e até mesmo assédio. Estes foram desafios que poderiam ter levado à desistência, mas seu propósito e sua natureza altamente competitiva prevaleceram, motivando-a a persistir e continuar até hoje.
Um dos principais obstáculos que Samara destaca é a falta de transparência nos processos de seleção, que geralmente ocorrem por meio de indicações e conexões pessoais. Ela descreve essa dinâmica como se fosse um “clube fechado” de homens. Samara acredita que é crucial a implementação de políticas públicas e regras mais claras para garantir igualdade de oportunidades para as mulheres, pois, do contrário, a mudança pode demorar muito a acontecer. Existem muitas mulheres qualificadas e capacitadas em busca de oportunidades, mas muitas vezes são negligenciadas no processo seletivo.
Hoje, um dos maiores desafios de Samara é demonstrar o valor de seu trabalho sem romantização, uma vez que manter sua posição é uma tarefa árdua. Ela sente que constantemente precisa justificar suas decisões e demonstrar seu conhecimento. No entanto, ela ressalta que desistir não é uma opção, e ela está determinada a continuar a lutar pelo seu lugar no mundo do esporte.
Samara também destaca a importância de manter sua autenticidade no ambiente esportivo. Ela enfatiza que não é necessário adotar uma postura masculina para ser bem-sucedida, e que sua liderança é equilibrada e feminina. Ela acredita que o olhar feminino traz uma sensibilidade valiosa, e os atletas homens muitas vezes se sentem mais à vontade para ouvir e se expressar em sua presença, sem medo de julgamento. Essa abordagem única pode ser utilizada de maneira positiva no mundo do esporte.
A história de Samara Sampaio é um testemunho inspirador da determinação e resiliência necessárias para superar barreiras de gênero no esporte e abrir caminho para as mulheres em posições de destaque.