Revisão científica avalia três terapias hormonais e reforça a importância da tolerabilidade e da decisão compartilhada entre médica e paciente
Um artigo de revisão recente, publicado na revista científica Biomedicines em setembro de 2025, avaliou os benefícios e riscos de três tratamentos clínicos não cirúrgicos para a endometriose: o dienogeste, os análogos do GnRH e a gestrinona. O estudo coloca em debate as opções disponíveis para o manejo da dor — principal queixa das mulheres com a doença — destacando vantagens e efeitos colaterais de cada método.

Intitulado “Tolerabilidade e tomada de decisão compartilhada no tratamento hormonal da dor associada à endometriose” (Tolerability and Shared Decision-Making in the Hormonal Management of Endometriosis-Associated Pain), o artigo reforça que, embora todas as opções apresentem eficácia comparável no controle da dor, cada uma possui perfis de tolerabilidade distintos, exigindo que a escolha terapêutica seja individualizada e construída em conjunto entre médica e paciente.

Principais achados da revisão:
• Análogos do GnRH: tradicionalmente considerados primeira escolha, bloqueiam a hipófise e induzem uma menopausa temporária. Apesar de eficazes, estão associados a efeitos colaterais intensos, como fogachos, depressão, retração gengival e sintomas do climatério.
• Dienogeste: alternativa segura, preserva a densidade óssea e apresenta menos efeitos típicos do climatério, embora possa estar ligado a distúrbios metabólicos.
• Gestrinona: por muito tempo recebeu críticas devido ao potencial de efeitos androgênicos, como alteração da voz e aumento de pelos. No entanto, a revisão aponta que, em doses adequadas, não foram observados efeitos adversos significativos, mostrando-se uma opção eficaz e bem tolerada.
Segundo a ginecologista Dra. Ana Comin, especialista em ginecologia minimamente invasiva, robótica, regenerativa e estética — com atuação em endometriose, miomatose e adenomiose —, o estudo traz uma contribuição importante para ampliar a visão sobre os tratamentos disponíveis:

“A gestrinona foi por muito tempo demonizada, mas as evidências mostram que, em dose adequada, ela não traz efeitos colaterais graves que impeçam seu uso. O objetivo da revisão é justamente mostrar que existem outras possibilidades além dos métodos tradicionalmente utilizados”, explica.
Embora ainda sejam poucos os estudos sobre a gestrinona, novas pesquisas estão em andamento. Entre elas, o estudo GLADE, um ensaio clínico duplo-cego e randomizado com conclusão prevista para outubro, deve fornecer dados robustos sobre a segurança e eficácia do medicamento.
Com essa revisão, os pesquisadores buscam reforçar a importância de um modelo clínico moderno, que priorize a tolerabilidade a longo prazo e a tomada de decisão compartilhada, assegurando que a escolha terapêutica seja feita de forma alinhada às necessidades e expectativas das mulheres com endometriose.
A pesquisa foi conduzida em parceria com a SOBRAPEM – Sociedade Brasileira de Pesquisa e Ensino em Medicina, que atua na promoção de estudos científicos e na difusão de conhecimento médico.

Referência:
Viana, D. P. C., Jacobsen, L., Padovesi, I., Comin, A., Correia, E. L. S., Fernandes, D. D. M., & Dias, A. C. P. (2025). Tolerability and Shared Decision-Making in the Hormonal Management of Endometriosis-Associated Pain. Biomedicines, 13(9), 2294. https://doi.org/10.3390/biomedicines13092294