Uma recente descoberta lançou luz sobre a estreita ligação entre perda auditiva e saúde cognitiva em idosos. De acordo com um estudo publicado na prestigiada revista médica The Lancet, idosos com fatores de risco para demência, como diabetes e hipertensão, apresentaram uma notável redução de aproximadamente 48% na taxa de declínio cognitivo após três anos de uso de aparelhos auditivos.
Este estudo, denominado “Achieve”, recrutou 977 participantes idosos com idades entre 70 e 84 anos nos Estados Unidos. Alguns deles faziam parte de um estudo observacional sobre saúde cardiovascular chamado “Aric”, enquanto o outro grupo era composto por idosos saudáveis da comunidade. Todos esses indivíduos foram diagnosticados com perda auditiva, mas nenhum deles demonstrava comprometimento cognitivo significativo.
Os participantes foram divididos aleatoriamente em dois grupos: o primeiro grupo recebeu intervenção auditiva, que incluiu a provisão de aparelhos auditivos, sessões regulares com fonoaudiólogos, orientações sobre o uso adequado desses dispositivos e estratégias de reabilitação auditiva. Enquanto isso, o segundo grupo de controle participou de encontros individuais com um educador de saúde, abordando tópicos relacionados à prevenção de doenças crônicas e realizou um curso interativo sobre envelhecimento saudável.
Segundo a médica geriatra Simone de Paula Pessoa Lima, da empresa especializada em home care, Saúde no Lar, os resultados deste estudo podem ser atribuídos ao fato de que os aparelhos auditivos restauram o estímulo sensorial adequado ao cérebro, reduzindo a carga cognitiva necessária para compreender a fala e mitigando o isolamento social, que está associado a um maior risco de depressão e ansiedade, fatores que, por sua vez, também podem contribuir para a deterioração cognitiva.
“A perda auditiva pode tornar difícil para os idosos se comunicarem e participarem de atividades sociais. Como resultado, eles podem perder o interesse em se envolver em atividades que antes eram prazerosas e em interagir socialmente com outras pessoas.”
A geriatra destaca que esses indivíduos precisam se esforçar mais para entender a fala e processar informações auditivas. “Esse esforço adicional pode sobrecarregar o cérebro e afetar negativamente suas funções cognitivas, aumentando o risco de declínio.”
É importante ressaltar que a perda auditiva e a demência compartilham alguns mecanismos neurológicos subjacentes, como inflamação crônica, estresse oxidativo e danos nos vasos sanguíneos. Portanto, tratar a perda auditiva em estágios iniciais pode ajudar a reduzir essa carga cognitiva e manter uma estimulação sensorial adequada para o cérebro, o que potencialmente retarda ou minimiza o risco de desenvolvimento de demência.
“É crucial que os idosos passem por avaliações regulares e recebam tratamento adequado caso seja identificada perda auditiva.” Além disso, a adoção de medidas preventivas, como evitar a exposição a ruídos intensos, reduzir o uso excessivo de fones de ouvido, adotar hábitos de vida saudáveis, não fumar e monitorar a pressão arterial e a glicemia, também desempenha um papel significativo na preservação da saúde auditiva e cognitiva.
A geriatra enfatiza que o processo de envelhecimento auditivo é altamente variável e individual, portanto, é fundamental realizar exames ao primeiro sinal de sintomas, como dificuldade de compreensão, audição sem compreensão, sensação de ouvidos entupidos, zumbidos, tonturas, entre outros. A detecção precoce e o tratamento adequado podem fazer toda a diferença à medida que os anos avançam.
Um estudo de acompanhamento está em andamento para analisar os efeitos a longo prazo da intervenção auditiva sobre a cognição e outros desfechos, o que promete fornecer mais informações sobre a relação entre perda auditiva e demência.