Impunidade: policiais envolvidos no caso Amarildo continuam na ativa

Ana Priscila
Tempo de Leitura 6 min

Decorridos 10 anos desde o caso Amarildo, é preocupante constatar que seis policiais militares condenados continuam exercendo suas funções na corporação, sem que nenhum deles esteja preso.

Dentre os agentes que permanecem na Polícia Militar, destaca-se o major Edson Raimundo dos Santos, que ocupava o cargo de comandante da UPP da Rocinha na época do ocorrido. A condenação desses policiais ocorreu em 2016.

Surpreendentemente, seis dos envolvidos na morte do ajudante de pedreiro Amarildo de Souza seguem em atividade na Polícia Militar do Rio de Janeiro, mesmo após uma década do crime. Essa informação foi confirmada pela própria corporação. (Veja abaixo em que área cada um está atuando)

Amarildo desapareceu após ter sido levado por policiais militares para ser interrogado na sede da UPP da Rocinha durante a Operação Paz Armada, que visava combater o tráfico de drogas na comunidade, em julho de 2013. A Justiça concluiu que Amarildo foi torturado até a morte, porém seu corpo nunca foi encontrado.

Nesta quinta-feira (13), em memória de Amarildo, a ONG Rio de Paz organizou um ato na Praia de Copacabana. O movimento posicionou 10 manequins na areia, representando cada ano do desaparecimento, e voluntários sob um tecido transparente simbolizando Amarildo e os inúmeros outros desaparecidos no Rio de Janeiro.

Entre os agentes que continuam na Polícia Militar, destaca-se o major Edson Raimundo dos Santos, condenado a 13 anos e sete meses de prisão. Na época, ele ocupava o posto de comandante da UPP da Rocinha.

De acordo com a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária (Seap), nenhum dos condenados encontra-se preso, mesmo após uma década do desaparecimento do corpo da vítima.

Os condenados foram encaminhados para diferentes unidades do sistema prisional. Em março de 2019, quatro PMs acusados foram absolvidos pela Justiça e deixaram a unidade prisional da Polícia Militar.

Meses depois, em agosto, o major Edson Santos obteve o benefício de cumprir a pena em prisão domiciliar. Na ocasião, a juíza responsável mencionou a falta de vagas no sistema prisional como um dos motivos para conceder tal medida.

Em 2016, 12 policiais militares foram condenados pela morte e desaparecimento do corpo de Amarildo. Eles responderam pelos crimes de tortura seguida de morte, ocultação de cadáver e fraude processual.

Além dos seis condenados que permanecem na Polícia Militar, outros seis foram excluídos da corporação. São eles:

Soldado Douglas Roberto Vital Machado
Soldado Marlon Campos Reis
Soldado Jorge Luiz Gonçalves Coelho
Soldado Anderson César Soares Maia
Soldado Wellington Tavares da Silva
Soldado Felipe Maia Queiroz Moura

Aqueles que seguem na corporação são:

Major Edson Raimundo dos Santos: Era o comandante da UPP Rocinha desde sua inauguração e, de acordo com a Justiça, foi o “mentor intelectual da tortura” contra Amarildo. Sua condenação foi de 13 anos e sete meses de prisão. Segundo a PM, ele atualmente trabalha na Diretoria Geral de Pessoal.

Tenente Luiz Felipe de Medeiros: Ocupava a posição de subcomandante da UPP Rocinha. Era o segundo em comando, logo abaixo do major Edson, e, segundo a Justiça, “não só orquestrou todo o crime junto a Edson, como também participou pessoalmente da execução”. Foi condenado a 10 anos e sete meses de prisão. Atualmente, atua no Centro de Abastecimento de Insumos de Saúde da Polícia Militar.

Soldado Jairo da Conceição Ribas: Participou da captura de Amarildo e vigiou a área ao redor do local do crime para garantir que o delito fosse cometido. Sua pena foi de 10 anos e quatro meses de prisão. Embora tenha sido expulso da Polícia Militar, foi reintegrado após uma decisão judicial em outubro de 2021.

Soldado Fábio Brasil da Rocha da Graça: Segundo a Justiça, Fábio participou da abordagem e da condução de Amarildo à sede da UPP. Durante a tortura da vítima, ele permaneceu junto aos demais policiais, designados por seus superiores, para conter a área. Também contribuiu para ocultar o corpo. Após ter sido condenado a 10 anos e quatro meses de prisão, foi expulso da Polícia Militar. Contudo, foi reintegrado à corporação por decisão judicial em outubro de 2021.

Rachel de Souza Peixoto: Desempenhava a função de secretária do comandante. Segundo a Justiça, ficou comprovado que ela vigiava a sede da UPP durante a tortura de Amarildo. Ela foi condenada a nove anos e quatro meses de prisão. Atualmente, continua trabalhando na Policlínica da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Thaís Rodrigues Gusmão: Sob ordens do major Edson, Thaís apagou as luzes do Parque Ecológico, situado ao lado da sede da UPP, com o objetivo de reduzir a visibilidade dos arredores do local do crime. Ela foi condenada a nove anos e quatro meses de prisão. Atualmente, também atua na Policlínica da Polícia Militar do Rio de Janeiro.

Amarildo foi levado por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha e jamais retornou para sua casa. Os policiais acreditavam que Amarildo possuía informações sobre o paradeiro de traficantes.

Investigações do Ministério Público conseguiram comprovar que o ajudante de pedreiro foi levado para a base da UPP pelos PMs.

A Justiça concluiu que Amarildo foi torturado até a morte, mas seu corpo nunca foi encontrado.

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