Por que cada vez menos pessoas têm um plano B na carreira

Brenno Ramos
Tempo de Leitura 7 min

Por que cada vez menos pessoas têm um plano B na carreira?

Chris, aos 35 anos, trabalha na indústria de animação há mais de uma década e ainda se anima com suas tarefas semanais.

Ele adora seu emprego, mas a instabilidade financeira está o levando a considerar outras opções.

“A indústria não investe em planejamento de produção de longo prazo nem na retenção de talentos”, explica ele. “Por isso, quando a produção acaba, você é descartado, sem nenhum tipo de indenização.”

No passado, ele conseguia lidar com as incertezas. Porém, agora que ele quer ter filhos, as flutuações do fluxo de caixa estão se tornando problemáticas.

Por isso, o animador, que mora na Califórnia, nos Estados Unidos, está pensando em mudar para uma “carreira alternativa” em design de experiência do usuário, um mercado em rápido crescimento com salários relativamente altos. Ele acredita que essa seja uma opção mais segura.

Muitos outros profissionais, como Chris, têm um plano B caso sua carreira não decole, uma espécie de alternativa em um setor mais estável para o qual possam recorrer caso sua carreira original não dê certo.

Em alguns casos, essa alternativa pode estar relacionada aos seus hobbies e interesses. Em outros casos, é um campo tolerável que consegue pagar as contas.

Essencialmente, uma carreira alternativa é um setor com muitos empregos e segurança, geralmente estável, mesmo em meio a tempos difíceis na economia.

Profissionais que optam por empregos em setores voláteis ou seletivos podem se sentir seguros sabendo que têm uma opção “segura” caso sua primeira escolha de carreira não funcione.

“Ter um plano B de carreira mais ‘seguro’ atende à necessidade das pessoas de se sentirem seguras e confiantes ao buscar carreiras menos tradicionais”, afirma Sarah Henson, cientista comportamental da plataforma digital de coaching de carreira CoachHub.

Ao longo dos anos, ter um plano B sempre foi uma possibilidade realista. No entanto, atualmente, com os altos custos de se obter uma nova formação, o esgotamento na indústria e a instabilidade nos setores tradicionalmente seguros, migrar para uma carreira alternativa não é tão fácil, ou mesmo possível, como costumava ser.

O custo de uma nova formação Não existem carreiras à prova de falhas. No entanto, muitos profissionais consideram ter um plano B em setores como educação ou comércio, que são mais estáveis.

No caso de Chris, ele está migrando para um setor que parece estar crescendo rapidamente e demandando profissionais com conhecimento em novas tecnologias.

Carreiras alternativas têm a reputação de se manterem fortes, sendo em sua maioria estáveis ou suficientemente “seguras” diante das mudanças no panorama econômico.

“Esses cargos tendem a estar onde há falta de conhecimento, o que lhes oferece boas perspectivas de trabalho”, diz a professora Fiona Christie, da Universidade Metropolitana de Manchester, no Reino Unido, especializada em empregabilidadee recém-formados.

É verdade que a maioria desses empregos é estável, mas buscar uma nova carreira muitas vezes requer treinamento ou formação adicional, o que custa tempo e dinheiro. Claro, isso sempre foi assim, mas as condições econômicas atuais estão tornando mais difícil absorver esses custos adicionais.

“Há barreiras significativas para obter nova formação, incluindo o pagamento do curso ao mesmo tempo em que se cobrem os custos básicos de vida e a possibilidade de reduzir as horas de trabalho para estudar”, explica Catherine Foot, diretora do centro de pesquisa e debates Phoenix Insights, mantido pela seguradora britânica Phoenix Group.

“Isso foi exacerbado pelo aumento do custo de vida, que coloca mais pressão sobre a renda disponível”, acrescenta.

No Reino Unido, dados de 2021 da organização de educação vocacional City & Guilds mostram que os cidadãos britânicos que desejam mudar de carreira estão preocupados com os custos da nova formação, especialmente entre os profissionais de 25 a 34 anos de idade.

Esses temores são agravados pelo fato de muitas pessoas estarem economizando menos dinheiro devido à atual instabilidade econômica. Dados do final de 2022 do Federal Reserve Bank de St. Louis, nos Estados Unidos, mostram, por exemplo, que os americanos agora conseguem economizar apenas 2,4% de sua renda disponível, em comparação com cerca de 34% no auge da pandemia.

Essas são preocupações de Tiffany, que tem 30 anos e está ansiosa para mudar de carreira depois de passar uma década trabalhando na indústria culinária.

“Até mesmo em uma padaria respeitável, que paga salários altos, estou tendo dificuldade em não me sentir culpada por comprar sapatos ou alimentos”, conta ela. “Animação seria minha próxima carreira ideal, mas o grande problema são os estudos – simplesmente não tenho dinheiro para me sustentar.”

Tiffany mora em Minnesota, nos Estados Unidos. Para ela, pedir um empréstimo parece “assustador”, pois teme que nunca ganhará o suficiente para pagar a dívida e cobrir suas despesas normais.

Para Chris, evitar os custos da educação está moldando sua estratégia para a mudança de carreira. Ele optou pelo design de experiência do usuário porque não precisaria estudar em tempo integral.

“Como tenho mais de 30 anos e estou prestes a formar uma família, quero evitar ter que voltar para a escola e perder renda”, diz ele.

Mudar de carreira é difícil para muitas pessoas, mas pode ser particularmente problemático para aqueles que não têm uma rede de segurança financeira, como economias familiares, ou que têm a responsabilidade de cuidar de outras pessoas, segundo Christie.

Além disso, à medida que os salários perdem terreno em meio às turbulências econômicas, alguns profissionais estão hesitando em deixar seus empregos atuais. Os dados da City & Guilds mostram que mais de 25% dos cidadãos britânicos pesquisados estão preocupados com os salários em outras carreiras. Os dados também mostram que as pessoas de 25 a 34 anos são asmais preocupadas.

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