As pesquisas concordam de forma unânime: o avanço tecnológico é uma realidade, e a carência de profissionais qualificados é um fato incontestável. Entretanto, essa segunda questão é a que limita o crescimento de muitos setores de alta tecnologia.
Especialistas afirmam que há uma lacuna entre 4 e 7 milhões de oportunidades de emprego no setor que simplesmente não são preenchidas pelo mercado.
Agora, como explicar essa disparidade considerável, quando é claro que de 20% a 30% do trabalho logo poderá ser executado por meio de tecnologias de automação?
Carlos Busch, um executivo com mais de 25 anos de experiência em liderança de grandes multinacionais na América Latina, como ONU, Microsoft, Oracle, Software AG e Salesforce, é uma referência internacional em Vendas e Experiência do Cliente (CX). Ele compartilha suas perspectivas sobre para onde a humanidade está se dirigindo.
“A falta de profissionais qualificados em áreas de alta tecnologia pode ter impactos no desenvolvimento das empresas de diversas maneiras. Primeiramente, a carência de profissionais capacitados pode resultar em projetos atrasados ou de qualidade inferior, afetando a capacidade da empresa de entregar produtos e serviços inovadores. Além disso, a competição por talentos pode levar a aumentos nos custos de contratação e salários, o que afeta a lucratividade das empresas. A falta de pessoal qualificado também pode limitar a habilidade das empresas de adotar novas tecnologias e acompanhar as tendências do mercado, colocando-as em desvantagem perante concorrentes mais ágeis e atualizados”, explica Busch, que atualmente atua como mentor para outras lideranças.
Em sua opinião, há soluções, mas elas exigirão esforços por parte dos empregadores: “Empresários podem adotar uma abordagem estratégica para qualificar seus profissionais, tomando medidas importantes. Primeiramente, podem investir em programas internos de treinamento e desenvolvimento, aprimorando as habilidades de seus atuais colaboradores e preparando-os para as demandas futuras. Além disso, podem estabelecer parcerias com instituições educacionais e de treinamento para garantir que seus funcionários tenham acesso às competências necessárias. Outra estratégia é atrair talentos promissores e investir em programas de estágio ou mentoria para o desenvolvimento deles”.
O estímulo à aprendizagem contínua ao longo da vida, o chamado “Life Long Learning”, também é um tópico crucial para manter os profissionais atualizados com as tecnologias e tendências mais recentes. Aqueles que lideram projetos no início ganham uma vantagem temporal sobre os demais competidores de mercado.
Perguntamos a Busch, autor do best-seller “Muito Além das Expectativas”, se as tecnologias poderiam criar oportunidades de carreira em vez de apenas torná-las obsoletas.
A resposta é afirmativa. “Por exemplo, a automação pode eliminar trabalhos manuais e repetitivos, mas ao mesmo tempo, pode impulsionar a criação de empregos relacionados à manutenção e operação dessas tecnologias. Novas funções surgirão para desenvolver, implementar e melhorar essas tecnologias, como engenheiros de IA, cientistas de dados e especialistas em cibersegurança. O papel dos profissionais evoluirá para trabalhar lado a lado com as máquinas, combinando habilidades humanas com o poder da tecnologia para alcançar resultados melhores”, relata ele.
O Brasil é considerado um dos países mais avançados em termos de profissionais e capacitação, porém a quantidade é insuficiente para as necessidades econômicas atuais. Com a diferença cambial, nossos profissionais frequentemente são contratados por empresas estrangeiras, o que fortalece nossa vantagem competitiva, destaca Busch.
“Eu entendo que a questão no Brasil reside na falta de maturidade por parte de nossa classe empresarial para compreender que certas abordagens são cruciais para nossa sociedade e crescimento de mercado.”
Segundo ele, há uma idealização exagerada dessas abordagens, ao invés de se concentrar naquilo que poderia gerar uma vantagem competitiva: “Tenho notado muitas empresas buscando a implementação de IA para reduzir custos diretos ou atividades semelhantes, mas não em usá-la de maneira ampla como uma vantagem competitiva, ou seja, criar novas formas de atender aos clientes, fornecer serviços previamente complexos, entre outros”.
Outra consequência do avanço dessas tecnologias emergentes é a perspectiva do trabalho remoto e o aumento da colaboração entre equipes distribuídas.
“Tecnologias de comunicação, colaboração e compartilhamento de informações possibilitam que as equipes trabalhem eficazmente, independentemente da localização geográfica. As empresas podem adotar estratégias de trabalho híbrido, combinando espaços físicos com a capacidade de trabalho remoto. Essa abordagem aumenta a flexibilidade e a satisfação dos funcionários, além de permitir que as empresas acessem talentos em âmbito global, expandindo suas opções de recrutamento.”
No entanto, o grande desafio está na difícil adaptação da cultura empresarial aos modelos remotos, o que dificulta sua integração.
O Brasil possui, apesar do desafio tecnológico, o potencial para implementar tecnologias emergentes em diversos setores. “Sem dúvida! Um exemplo é o agronegócio, que já tem demonstrado avanços significativos no uso de tecnologias como a IoT para monitorar plantações, drones para inspeções, análise de dados para otimizar a produção e até mesmo o uso de robôs para atividades agrícolas específicas. Setores como saúde, educação, indústria automobilística, energia e serviços financeiros também têm espaço para a adoção de tecnologias emergentes para aprimorar processos, eficiência e inovação”, afirma Busch.
“Na última Consumer Electronics Show (CES), realizada em Las Vegas, Estados Unidos, o CEO global da John Deere, que foi o principal palestrante do evento, abordou exatamente a grande transformação liderada pela empresa nesse contexto.”
Carlos Busch conclui dizendo que ter profissionais qualificados no país representa economia de tempo e dinheiro para os empresários. Afinal, na prática, competimos com nossa mão de obra qualificada em um cenário em que países com maturidade empresarial mais avançada têm uma vantagem competitiva e cambial superior.
Do mesmo modo, as empresas brasileiras que se concentram em utilizar esse movimento de inovação para criar mais valor e vantagem competitiva, além de enfrentarem a escassez de mão de obra qualificada, muitas vezes precisam investir ainda mais em talentos, competindo com mercados mais maduros.
Com informações de Época Negócios.