Teatro Cego: Espetáculo ‘Clarear – Somos Todos Diferentes’

Ana Priscila
Tempo de Leitura 6 min

Um ambiente completamente envolto em escuridão, onde nada pode ser discernido pelos olhos. Este é o cenário que define o espetáculo “Clarear – Somos Todos Diferentes”, apresentado pela Companhia de Teatro Cego. E o melhor: todas as apresentações são gratuitas.

A peça é criada, dirigida e encenada por pessoas com deficiência visual, e sua missão é não apenas entreter, mas também sensibilizar o público sobre as particularidades da vida das pessoas cegas. De maneira distinta das peças tradicionais, onde os espectadores ficam na plateia, separados dos atores e do cenário, no Teatro Cego, a audiência se encontra no meio dos artistas e bem próximo das fontes sensoriais que os conduzirão a sentir e compreender a trama. Uma proximidade que envolve aromas, músicas e sensações táteis, aprimorando os sentidos da audição, olfato, paladar e tato.

Paulo Palado, diretor da peça e também ator na produção, explicou à Agência Brasil que o objetivo é proporcionar ao público uma breve experiência da vida de alguém com deficiência visual. A inspiração para o espetáculo surgiu em 1990, após ele conhecer um projeto semelhante na cidade de Córdoba, Argentina, realizado pelo grupo Teatro Ciego.

A proposta é convidar as pessoas a aguçar seus outros sentidos. Vivemos numa sociedade que muitas vezes julga com base na visão. Quando colocamos as pessoas na posição de compreender o mundo através do toque, do paladar, da audição e do olfato, estamos intensificando o que chamamos de sexto sentido, a intuição. Isso permite que as pessoas percebam que podem compreender o mundo ao seu redor de uma maneira diferente da mera visão.

A trama, escrita por Sara Bentes, também atriz, ocorre em uma república habitada por cinco jovens: um com deficiência visual, outro com deficiência auditiva, um cadeirante, um argentino e uma torcedora fervorosa de um pequeno clube local (em cada cidade é escolhido um time). Com foco no humor, a história revela a superação de dificuldades de comunicação e convivência por meio da amizade.

O diretor destaca que o projeto também oferece oportunidades de trabalho para pessoas com deficiência visual. “Quando a plateia assiste a esse espetáculo, ela percebe que pessoas com deficiência visual estão trabalhando para proporcionar sua diversão. Isso muda a forma como ela enxerga essas pessoas”, enfatizou Palado.

O processo criativo da companhia leva em consideração, desde o início, uma audiência e um elenco que não enxergam. As falas incluem indicações de muitos elementos e situações que o espectador não poderia identificar sem a visão. A cada momento, a plateia é estimulada por aromas e sons. Para marcar momentos-chave da peça, uma música ou aroma são repetidos sempre que a cena retorna a um cenário específico.

Diferentemente de uma peça convencional, onde o espectador primeiro se depara com o cenário e, em seguida, acompanha o movimento, no Teatro Cego tudo começa em total escuridão. À medida que os atores entram em cena, com a movimentação, aromas, sons e sensações táteis, o cenário vai se revelando gradualmente.

Paulo Palado compartilha que muitas vezes as mães que acompanham seus filhos e os cônjuges que vão juntos ao espetáculo expressam após a apresentação: “Agora eu entendo como meu filho, meu marido, minha esposa, que convivem diariamente com deficiência visual, enxergam o mundo”. Esses testemunhos são profundamente impactantes e demonstram como as pessoas são tocadas por essa experiência, acrescentou Palado.

Ele também ressalta que a experiência sensorial proporciona igualdade de compreensão para as pessoas cegas que frequentam o espetáculo. “Quando uma pessoa com deficiência visual assiste a um espetáculo do Teatro Cego, ela está em pé de igualdade com todos os outros presentes na plateia. Ela não precisa de descrição de áudio, ou seja, não precisa de um intermediário para explicar o que está acontecendo”, explicou.

Nas apresentações na Baixada Fluminense, a maioria será voltada para estudantes da rede pública. Para estender a mensagem de acessibilidade além do teatro, os alunos receberão um gibi contando uma história de inclusão de pessoas com deficiência. Os professores receberão uma cartilha com o mesmo tema. Após cada apresentação, haverá uma palestra seguida de um debate sobre acessibilidade, inclusão e políticas públicas para esse público retratado.

O espetáculo “Clarear – Somos Todos Diferentes” será apresentado em Duque de Caxias, Japeri e Nova Iguaçu. Este projeto já passou por Cubatão (SP) e tem apresentações previstas em Juiz de Fora (MG), Macaé (RJ) e Cascavel (PR).

Detalhes do Evento:

Espetáculo Clarear – Somos Todos Diferentes (para alunos da rede municipal e aberto ao público).

Datas: 15, 16 e 17/8;
Local: Teatro Firjan Sesi DC, Duque de Caxias;
Horários: Duas apresentações diárias, às 10h e às 15h;
Número de Alunos por Apresentação: 120 (totalizando 720 alunos);
Escolas Participantes: Escola Firjan Sesi, EM Barão do Amapá e Ciep 031 – Lírio do Laguna.

Dias: 29, 30 e 31/8;
Local: Quadra esportiva de Nova Belém, Japeri;
Horários: 10h e 15h.

Dias: 12, 13 e 14/9;
Local: Teatro Sylvio Monteiro, Nova Iguaçu;
Horários: 18h e 20h (entrada gratuita para o público geral).

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