Twitter se transforma com novo dono Elon Musk e concorrentes surgem

Ana Priscila
Ana Priscila
Tempo de Leitura 8 min

O ambiente online tem sido palco de uma verdadeira onda de inovação nas últimas semanas. Mudanças radicais em algumas plataformas e o surgimento de outras estão oferecendo ao público uma ampla variedade de opções para se expressar, conectar e consumir conteúdo pela internet.

Um exemplo disso é o Twitter, que passou por transformações significativas em sua interface e funcionalidades. A mais recente delas dividiu opiniões: Elon Musk, o novo proprietário do site, optou por deixar o icônico passarinho azul de lado e transformou a logomarca da empresa em um “X”. Essa mudança faz parte do plano de criar um superaplicativo que reunirá ferramentas de áudio, vídeo, mensagens e pagamentos.

Antes disso, diversas outras alterações já haviam sido implementadas, como a criação de um limite diário de mil tuítes para usuários não verificados, a oferta de selo de verificação pago para qualquer pessoa que assine o Twitter Blue, versão paga da rede, a possibilidade de tuítes maiores e editáveis com até 25 mil caracteres, novos selos de verificação para empresas e órgãos de governo, além da exibição do número de visualizações e salvamentos de tuítes por outras pessoas. Outra mudança significativa foi a introdução da aba ‘Para você’, que oferece um feed com tuítes recomendados.

Para a professora doutora Ivana Oliveira, que leciona mídias digitais na Universidade da Amazônia (Unama), o Twitter revolucionou a forma de comunicação que existia anteriormente em sites de relacionamentos, como o Facebook e o Orkut, ao criar uma sociabilidade mais resumida e imediata. “Quando foi criado, em 2006, trouxe a possibilidade de termos informações rápidas, diretas e com menos intermediários, onde você pode seguir diretamente a fonte da informação. E agora ele está diante de uma nova era”, afirma.

Entretanto, mesmo sendo uma das redes mais importantes do mundo, com 229 milhões de usuários em vários países, a visão de Ivana é que isso ainda não é suficiente para Elon Musk, que deseja ir além do que o Twitter oferece atualmente. Ela menciona que o plano é criar um aplicativo que agregue conversas, rede social e sistema de pagamento, mas pondera que ainda é cedo para afirmar se isso será bem-sucedido.

“A plataforma nos proporciona um serviço de microblog, que é como uma praça digital, onde as pessoas conversam e opinam de forma rápida e direta. É interessante como as informações chegam primeiro no Twitter. A intenção de Elon Musk é criar um aplicativo que ofereça de tudo; assim, ele abandona a proposta de ser um microblog de informação direta, rápida e que traz a informação de maneira imediata, para se tornar um microblog que mistura todas essas funções”, explica a especialista da área de comunicação.

Apesar de prever que o Twitter – ou “X” – possa se tornar um mercado global de serviços e oportunidades, Ivana também enxerga muitas críticas ao projeto. Para ela, as mudanças feitas não são necessariamente positivas, especialmente porque Musk alterou não apenas o nome, mas também as funcionalidades.

“Transformar o Twitter em um superaplicativo já havia sido cogitado no ano passado, mas agora, ao trazer essa nova proposta para competir com aplicativos de mensagens, ainda há certa incerteza. Será que isso dará certo?”, questiona.

“A abordagem de Elon Musk em apostar em novas ideias é louvável, mas ele realiza mudanças muito radicais, e não sabemos que tipo de pesquisa está embasando essas decisões. Ele não oferece detalhes suficientes, e isso gera muita apreensão”, alerta a professora Ivana Oliveira.

No âmbito da experiência do usuário (UX), a designer Thaís Gomes destaca que as últimas alterações no Twitter não seguiram um processo de desenvolvimento validado, ou seja, não foram submetidas a testes antes de serem lançadas ao público, ou se foram, o processo foi reduzido.

Em empresas de tecnologia, geralmente ocorre uma fase beta, na qual um pequeno grupo de usuários que se enquadra no público-alvo tem acesso às novas funcionalidades e, com base nos resultados positivos, são feitas melhorias e, posteriormente, as mudanças são disponibilizadas para toda a plataforma.

“Quando esse processo é pulado, é o que temos visto ultimamente no Twitter: uma forte rejeição por parte dos usuários e insegurança em relação à empresa que anuncia e mantém a rede. Para quem utiliza o Twitter, essas mudanças podem causar a sensação de insegurança em relação à plataforma. Milhares de memes têm circulado sobre o tema, refletindo uma imagem negativa para o público. A qualquer momento, pode surgir uma mudança nova, e isso não é visto como algo positivo. Temos uma tendência maior de lembrar de eventos negativos, o que também afasta produtores de conteúdo”, avalia Thaís.

A realização de mudanças tão significativas na estrutura de uma plataforma pode afastar seguidores, e isso pode ser aproveitado por empresas que desejam oferecer serviços similares aos que o Twitter oferecia anteriormente. É o caso da Meta, que recentemente lançou um aplicativo chamado Threads para concorrer com o Twitter, mas vinculado ao Instagram. Além disso, Thaís menciona outras três concorrentes: “Koo”, “Bluesky” e “Mastodon”.

“O ‘Threads’ foi desenvolvido, em parte, pela antiga equipe do Twitter que foi demitida após a chegada de Elon Musk. Essa equipe já estava acostumada a trabalhar com redes sociais e conhece o público. Além disso, Mark Zuckerberg, conhecido pela criação do Facebook e como dono do Instagram, tem um amplo conhecimento de como essas redes funcionam e de como prender os usuários ali na tela. Uma das maiores vantagens do aplicativo é sua integração direta com o Instagram, o que facilita absurdamente a entrada de novas pessoas para a plataforma”, opina a especialista em UX.

Outra vantagem do aplicativo é a consistência visual, já que existem muitas semelhanças entre as duas redes, o que traz reconhecimento para os usuários que já estão familiarizados com os símbolos e entendem seus significados, reduzindo a carga cognitiva. “Além disso, você não precisa começar do zero em uma nova rede social sem seguidores, pois pode, com alguns cliques, solicitar que as pessoas que você já conhece te sigam de volta. Essa é uma das grandes barreiras para outras concorrentes do Twitter”, analisa Thaís.

O desafio das plataformas emergentes, na opinião das pesquisadoras, será conquistar a confiança dos usuários e oferecer soluções eficazes para questões como privacidade e desinformação. Em relação ao Twitter, manter a plataforma como era poderia proporcionar o retorno da credibilidade perdida.

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