Rússia e Ucrânia denunciam planos de um ataque à usina. Inspetores da agência nuclear da ONU estão indo ao local para avaliar o nível de risco e verificar a veracidade das acusações.
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, transformaram a guerra em um jogo de xadrez, usando Zaporizhzhia, a maior usina nuclear da Europa, como tabuleiro.
“Para eles, isso é um jogo de xadrez, mas é pura loucura”, disse o ucraniano Roman Palkin à rádio Free Europe.
A declaração de Palkin, natural da cidade de Kherson, mas que foi obrigado a se mudar para Nikopol depois que seu apartamento foi destruído por um ataque aéreo russo no ano passado, ocorre quando Moscou e Kiev se acusam mutuamente de planejar uma nova catástrofe nuclear.
Ao se encontrar com o presidente francês, Emmanuel Macron, Zelenski disse, citando serviços de inteligência, que a Rússia pode estar se preparando para explodir parte da usina nuclear de Zaporizhzhia.
“A Rússia está preparando provocações perigosas na usina”, afirmou o presidente ucraniano.
Do outro lado da fronteira, as autoridades russas aumentaram a tensão ao afirmar que as declarações de Zelenski indicam que os ucranianos estão se preparando para causar uma catástrofe na usina e culpar Moscou por isso.
“A situação é bastante tensa porque a ameaça de sabotagem do regime de Kiev é realmente alta, sabotagem que pode ter consequências catastróficas”, disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres.
Nenhum dos lados apresentou provas das acusações até o momento.
A ONU pede passagem… e calma No meio das acusações entre Rússia e Ucrânia, o diretor da agência nuclear das Nações Unidas (ONU) solicitou maior acesso para inspeções, embora analistas afirmem que o risco imediato de danos graves à usina nuclear pareça baixo.
Em resposta às preocupações de Zelenski, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) afirmou hoje que seus inspetores no local não encontraram sinais de minas ou explosões, mas solicitaram acesso adicional a partes da usina para confirmar essa constatação.
“Nossos especialistas inspecionaram partes da instalação nos últimos dias e semanas, incluindo seções do perímetro da área de resfriamento, e também realizaram caminhadas regulares por todo o local, até agora sem observar nenhuma indicação visível de minas ou explosivos”, afirma o comunicado da AIEA.
Rússia e a represa rompida Zelenski afirmou que a Rússia pode ser incentivada a atacar Zaporizhzhia devido à falta de uma “resposta oportuna e em grande escala” por parte dos parceiros ocidentais à destruição da represa de Kakhovka no mês passado.
O ataque resultou no esvaziamento de um reservatório e inundou uma área no sul da Ucrânia. Os primeiros indícios apontaram para a Rússia como responsável pela explosão da represa.
Por essa razão, o governo ucraniano notificou os residentes que vivem nas proximidades da usina nuclear para reunirem suprimentos médicos e itens pessoais e se prepararem para uma possível evacuação a qualquer momento.
Existe o risco de uma catástrofe nuclear? O risco de uma catástrofe nuclear sempre existe, mas alguns especialistas afirmam que mesmo que a usina fosse equipada com explosivos, as diferenças na infraestrutura do reator significariam que eles não seriam capazes de causar a mesma escala de danos observada em Chernobyl, local do desastre nuclear de 1986.
“Os seis reatores da usina não são semelhantes ao reator de Chernobyl e não podem sofrer o mesmo tipo de acidente”, escreveu Cheryl Rofer, uma química e pesquisadora nuclear norte-americana.
Mark Wenman, especialista em materiais nucleares do Imperial College London, disse ao Financial Times que os prédios de contenção do reator de Zaporizhzhia são muito robustos e capazes de resistir a terremotos e impactos de aeronaves.
Com todos os reatores desligados, “no geral, os riscos ainda são muito pequenos”, acrescentou Wenman.