Xuxa – O Documentário: Os desafios de contar uma história em cinco episódios

Luiz Antônio
Tempo de Leitura 7 min

Falar sobre Xuxa Meneghel é garantia de sucesso. Poucos artistas no mundo conseguem render tanto em qualquer programa, entrevista ou contexto. Mesmo em seus fracassos, Xuxa consegue despertar um intenso escrutínio sobre todos os seus passos, polarizando opiniões a seu respeito. Desde o fim da parceria com Marlene Mattos, isso se intensificou ainda mais. Xuxa se tornou mais acessível e pode ser vista em todos os veículos do país, transformando seu legado visual em uma palavra poderosa.

É importante mencionar isso porque qualquer produto associado ao nome de Xuxa evoca a memória emocional de uma nação. Um documentário sobre sua vida e carreira carrega uma carga de expectativas que não pode ser ignorada (e muito menos totalmente cumprida). Desde o início, é difícil se desvencilhar dos aspectos emocionais inevitáveis. Xuxa tem esse efeito arrebatador sobre as pessoas que viveram seus anos de ouro na TV (entre 1986 e os anos 90). Enquanto avaliamos seu trabalho, lutamos constantemente contra o impulso de aceitar incondicionalmente os termos que ela propõe.

No entanto, em Xuxa – O Documentário, quem propõe é Pedro Bial. Como diretor geral do documentário, Pedro tinha a missão quase impossível de condensar em cinco episódios os 40 anos de carreira e os 60 anos da apresentadora. Pode parecer um detalhe insignificante dar importância a essa estrutura, mas ao final do primeiro episódio, nos perguntamos por que essa história imensa foi limitada a apenas cinco capítulos. Essa escolha visa alcançar todos os tipos de público, mas são os fãs fervorosos que realmente dimensionam o valor dessa produção. Portanto, pensar em expectativas é importante.

É claro que Pedro Bial e sua equipe não precisavam ser reféns do que os fãs de Xuxa gostariam de ver. De fato, os tópicos apresentados no primeiro episódio são cruciais para a mitologia da Rainha, mas parecem apenas superficialmente abordados. Talvez não fosse necessário gastar muito tempo falando sobre a criação do cenário do Xou da Xuxa, mas a falta de um aprofundamento detalhado sobre a história das Paquitas acaba sendo frustrante. Xuxa – O Documentário começou errando em um aspecto: ele conta a história rápido demais.

Super Xuxa Contra a Falta de Detalhes:

Iniciar o primeiro episódio com o surgimento da carreira da Rainha foi uma escolha acertada. O Xou da Xuxa foi o programa infantil mais popular da televisão brasileira e guarda a maioria das memórias emocionais das pessoas que assistem ao documentário com a nostalgia como alvo. Ver a chegada da apresentadora na Globo e a criação dos códigos visuais que a acompanharam para sempre é um ponto de partida perfeito. No entanto, após apenas 10 minutos de episódio, a sensação é de que já passaram anos desde o início.

O aspecto positivo dessa dinâmica é o ritmo intenso que não permite ao espectador desviar o olhar durante a reprodução. O problema está na superficialidade de algumas escolhas. A história das Paquitas não é muito bem estruturada após a explicação inicial de Andrea Veiga, por exemplo. As gerações se confundem na edição, que falha em situar o espectador na linha do tempo dos acontecimentos. Paquitas do Xou da Xuxa aparecem misturadas às Paquitas da fase pós-Xou da Xuxa, e para os leigos pode parecer que todas pertencem à mesma geração. A falta de cuidado na edição também não ajuda na compreensão. Andrea Veiga afirma em seu depoimento que eram apenas quatro Paquitas nos primeiros anos, mas a edição insiste em mostrar vídeos que contradizem essa afirmação.

A carreira musical de Xuxa, que é extremamente importante para essa história, é resumida em poucos minutos. O sonho de todo fã era ver detalhes sobre a criação dos discos, o impacto de algumas músicas, capas, versões, entre outros. No entanto, o primeiro episódio dedica apenas cerca de três minutos para resumir o que foram os LPs do Xou da Xuxa. Novamente, a edição parece falhar ao combinar a narração dos momentos do Xou com imagens de fora desse período. A sensação é de que a edição foi feita por alguém que não conhecia o trabalho de Xuxa e não foi capaz de correlacionar completamente as imagens com a narração dos fatos. Pode parecer uma bobagem, mas a era do Xou da Xuxa foi diferente da era Xuxa Park em muitos aspectos. Se ela fala sobre o Xou e aparece um LP da era Park, a edição parece desorganizada.

Para aqueles que não acompanharam de perto a carreira de Xuxa, nada disso pode ser relevante. No entanto, não parece que Pedro Bial e sua equipe pretendiam fazer um documentário apenas para aqueles que não foram “baixinhos”. A falta de detalhes ou a confusão em alguns aspectos pode afastar os fãs do envolvimento com o produto. Em outros quatro episódios, algumas dessas lacunas podem ser preenchidas, é claro. No entanto, isso só aumentará a sensação de falta de controle narrativo. No final das contas, isso pode ser pouco percebido, pois quando Xuxa está na tela, tudo se torna mágico novamente.

A emoção de reencontrar a alegria da infância (especialmente se ela precisou superar obstáculos para ser vivida) é indescritível. Mesmo que o documentário tenha falhas na abordagem, consentimos, perdoamos, celebramos e persistimos… Viva a festa da Xuxa.

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