Antes mesmo de Juscelino Kubitschek sonhar com a construção da capital do país, outras histórias deixaram suas marcas nas terras do Distrito Federal. Surpreendentemente, esta região abriga um tesouro arqueológico pouco conhecido, com 63 sítios de grande valor histórico, de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
Os sítios mais notáveis estão localizados em diversas regiões administrativas, incluindo Ceilândia, Taguatinga, Núcleo Bandeirante, Brazlândia, Jardim Botânico, Santa Maria, São Sebastião, Riacho Fundo, Gama, Paranoá e até mesmo no Parque Nacional de Brasília. Esses vestígios arqueológicos abrangem desde grupos que subsistiam com caça e coleta até estradas da época imperial do Brasil, antigas fazendas, pinturas rupestres e acampamentos usados pela expedição Cruls, parte da comissão exploradora do Planalto Central.
Visitando o Parque Nacional de Brasília, é possível mergulhar em uma verdadeira fortaleza de relíquias históricas que nos transporta para o passado e nos ajuda a compreender melhor o presente. O historiador Wildson Vieira, que estudou os sítios arqueológicos dentro do parque, revela vestígios de caçadores que ocuparam a área no século XVIII ou XIX, demonstrando a presença humana na região muito antes da concepção da capital.
O Parque Nacional também preserva estradas antigas, chamadas estradas reais, que conectavam Minas Gerais a Santa Luzia (atual Luziânia). Essas rotas históricas foram sobrepostas por estradas modernas no parque. Outro destaque são os vestígios de fazendas do século XIX, incluindo as fundações das antigas casas e cemitérios.
A comissão Cruls, que desempenhou um papel crucial na escolha do local para a capital, acampou no que hoje é o Parque Nacional. Este acampamento central, instalado em 1892, quase sete décadas antes da construção efetiva da capital, estudou as características naturais da região para a futura cidade.
Há planos para futuras escavações arqueológicas no Parque Nacional, visando um estudo mais aprofundado de nossos antepassados.
O Iphan desempenha um papel fundamental na proteção desses sítios arqueológicos. A equipe técnica do Iphan identifica e certifica os sítios, garantindo que sejam registrados como patrimônio da União. Além disso, o Iphan supervisiona pesquisas arqueológicas na área, garantindo a preservação desses espaços e o destino adequado dos artefatos coletados.
A diretora do Centro Nacional de Arqueologia do Iphan, Jeanne Crespo, destaca a importância de estudar esses locais para entender nossa história, incluindo migrações e estilos de vida que vão além dos processos conhecidos. Ela enfatiza que muitos brasilienses subestimam o rico patrimônio arqueológico da região e defende a inclusão desse conteúdo nos currículos escolares para despertar o interesse público.
O presidente do Iphan, Leandro Grass, ressalta que esses sítios estão se tornando fontes de geração de renda por meio do turismo, à medida que mais pessoas desejam explorar e conhecer esses locais históricos que contam a história do Brasil e da capital. Ele enfatiza a importância desses locais como ferramentas de memória e conhecimento.
Esta é uma rica herança histórica escondida nas terras do Distrito Federal, esperando ser explorada e compartilhada com todos os brasileiros.