A revelação de um possível esquema ilícito para comercialização de joias e outros itens de luxo recebidos pelo Brasil como presentes oficiais durante o governo de Jair Bolsonaro ganhou destaque internacional. Diversos jornais e sites estrangeiros reportaram sobre o assunto.
Desde que a Polícia Federal indiciou o ex-presidente na semana passada por lavagem de dinheiro e outros crimes, em uma investigação relacionada ao suposto desvio de joias oferecidas pela Arábia Saudita, o tema tem capturado a atenção da mídia internacional. Em manchete, o jornal suíço Le Temps explica em sua edição de quinta-feira que “Jair Bolsonaro é acusado de tentar desviar US$ 1,2 milhão em joias”.
Baseado nas informações divulgadas pela investigação na segunda-feira passada, o jornal detalha como o ex-chefe de Estado teria se beneficiado de um esquema para a venda ilegal de joias e artigos de luxo. “Alguns itens foram negociados e os valores obtidos foram convertidos em dinheiro, integrando o patrimônio pessoal do ex-presidente sem passar pelo sistema bancário formal”, resume o diário suíço.
O caso veio à tona pela primeira vez em março de 2023, através do jornal O Estado de S.Paulo. As joias estavam guardadas dentro da bagagem da comitiva do ministro de Minas e Energia, que voltava de uma viagem oficial ao Oriente Médio. Funcionários do governo realizaram diversas ações para liberar as peças, a última delas ocorrendo dias antes do fim do mandato de Bolsonaro. Posteriormente, descobriu-se a ausência de outros dois conjuntos de joias que não constavam no inventário presidencial após a saída de Bolsonaro do poder, apesar de tais presentes serem considerados patrimônio público, segundo o Tribunal de Contas da União.
O jornal francês Le Monde também abordou o escândalo, fornecendo detalhes sobre os objetos envolvidos no caso. “Os presentes incluíam um anel, um colar e brincos da renomada marca suíça Chopard, avaliados em cerca de US$ 828.000, além de relógios Chopard e Rolex adornados com ouro e diamantes, entre outras joias”, informa o vespertino, citando informações da polícia brasileira.
O patrimônio nacional é tema central nas reportagens. O jornal francês Libération, acompanhando o caso desde a semana passada, destaca que “em países democráticos, os presentes oferecidos aos chefes de Estado por estrangeiros tornam-se parte do patrimônio nacional e nunca são considerados pessoais”. “Entretanto”, compara o diário, “Jair Bolsonaro e sua equipe tentaram burlar essa regra”.
O periódico também explica que na França, esses objetos são armazenados na chamada Réserve Alma, um depósito exclusivo de móveis próximo às margens do Sena, cujo endereço é mantido em sigilo. Apenas alguns itens são exibidos durante a Jornada do Patrimônio, revela o Libération.
“Esta é a segunda vez em poucos meses que Bolsonaro é formalmente implicado em um crime”, contextualiza o jornal português Público. Em março, recorda o diário, o ex-presidente foi indiciado pela Polícia Federal em uma investigação sobre a alegada falsificação de certificados de vacinação contra a Covid-19. Bolsonaro também está sendo investigado por sua suposta participação em uma tentativa de golpe de Estado após sua derrota nas eleições de 2022, destaca o jornal português.
“O líder populista sul-americano, conhecido por sua admiração por Donald Trump, ainda não se pronunciou sobre as recentes acusações contra ele, embora tenha negado qualquer irregularidade durante seu mandato presidencial”, resume o jornal britânico The Guardian, que apelidou o escândalo das joias de Jewellerygate.